Fortalecido mais do que o esperado, Avante pode ser opção para Rui disputar Senado em 2026, por Raul Monteiro*

 


Ao entregar o controle do Avante ao ex-deputado federal Ronado Carletto, o ministro chefe da Casa Civil, Rui Costa, provavelmente tinha um plano para o qual só agora as forças aliadas do governo e seu próprio partido, o PT, começam a despertar. Carletto ganhou o comando da sigla, escanteando o deputado federal Sargento Pastor Isidório, que a controlava na Bahia há longo tempo, logo após as eleições estaduais passadas nas quais, por meio de Jerônimo Rodrigues, o PT conseguiu do eleitor um novo mandato para governar a Bahia por mais quatro anos, formatando assim um ciclo hoje de 17 anos no poder no Estado.

Muito rico, o self made man Carletto era então um nobre membro do PP, partido que, durante a campanha, rompeu com o PT, na chapa de quem a legenda tinha feito, nas eleições de 2018, nas quais reelegeu Rui governador, o hoje deputado federal João Leão seu vice. Ainda pelo partido, Carletto foi indicado suplente do candidato a senador Cacá Leão na chapa do oposicionista ACM Neto (União Brasil). Mas, diferentemente do que ocorreria com o filho de Leão, ele próprio e uma par de políticos do PP, que imediatamente granjeariam a antipatia dos petistas e do núcleo da campanha de Jerônimo, Carletto passou incólume.

Aliás, no período pós-eleitoral seu prestígio e poder ganhariam evidência nacionalmente e em Salvador porque foi numa mansão de propriedade de sua família numa praia paradisíaca no litoral sul do Estado que o então presidente eleito Lula viria a descansar da campanha tensa e extenuante. Retribuindo toda consideração dos petistas e especialmente do ministro, Carletto tem cumprido à risca a tarefa de transformar o Avante em mais do que uma espécie de linha auxiliar do PT no Estado, para o qual têm sido conduzidos não apenas os prefeitos do PP que decidiram não acompanhar Cacá e Leão como de outras legendas, quer oposicionistas ou aliadas.

O plano, está claro, parece ser fortalecer a legenda para além do que, inclusive PT e outros correligionários, imaginavam. Desde então, não são poucos nem desimportantes os prefeitos ou lideranças municipais que recebem convites para ingressar no Avante com a promessa de que poderão desfrutar de uma relação de proximidade com o governo petista, o que pode significar a garantia de um novo cenário para todos eles em 2024, com condições muito mais confortáveis para disputar as próximas eleições municipais. A pergunta que se faz é porque tanto empenho para fortalecer uma agremiação da base em detrimento de outras.

E a resposta pode estar exatamente mais à frente, em 2026. As conhecidas divergências de interesse entre Rui e o senador petista Jaques Wagner tornam a sucessão de 2026 uma verdadeira incógnita no grupo. De certo, até agora, só mesmo a tentativa de reeleição de Jerônimo Rodrigues. Mas há dúvidas sobre se Wagner vai concorrer de novo ao Senado, o que, em caso positivo, inviabilizaria o lançamento de um outro nome do PT à segunda vaga à senatoria. Nesta hipótese, Rui poderia pleitear a vaga por um outro partido, o Avante. Ainda sobraria espaço na chapa, a vice, para o PSD do senador Otto Alencar.

* Artigo do editor Raul Monteiro publicado na edição de hoje da Tribuna.

Raul Monteiro*

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